Letramento midiático e informacional: leitura de desinformação sobre vacinas na escola
- Cesar Augusto Gomes (Universidade Estadual de Campinas - Unicamp)
O objetivo central desta pesquisa é verificar se e como professores e alunos das escolas selecionadas estão enfrentando o fenômeno da desinformação e do negacionismo científico em sala de aula e se e como têm preparado seus estudantes para a leitura crítica da mídia, a partir da pesquisa de campo em escolas de Campinas/SP. De acordo com dados do Ministério da Saúde, desde 2016, o Brasil vem apresentando queda substancial na cobertura vacinal da população, chegando a 59% em 2021, quando o patamar preconizado é de 95%. Embora se saiba que a hesitação vacinal tem causas diversas, a disseminação de informações não factuais relacionando as vacinas a efeitos colaterais graves pode, além de levar a uma compreensão distorcida acerca de sua importância, contribuir para que o quadro de hesitação se agrave ainda mais. Há que se considerar ainda a existência de um Ecossistema da Desinformação, cuja tarefa tem sido a de produzir, adequar ao veículo e disseminar informações usadas para legitimar crenças, em detrimento de fatos científicos. Este estudo tem como corpus central a análise de testes objetivos sobre notícias factuais e não factuais acerca das vacinas e temas correlatos que circularam na mídia tradicional e nas mídias sociais, aplicados a 411 estudantes do Ensino Médio de uma escola da rede pública e uma da rede privada da cidade de Campinas/SP, Brasil. Para melhor compreensão dessa realidade, entrevistou 18 estudantes e 05 professores das duas unidades. A presente pesquisa se caracteriza como um Estudo Múltiplo de Caso (YIN, 2015), de natureza qualitativa, mas utiliza, de forma complementar, dados quantitativos. Está ancorada na Teoria dos Estudos Culturais (HALL et al., 1980) e na perspectiva da Educomunicação (SOARES, 2000a). Os testes são inspirados na pesquisa Civic Online Reasoning, realizada pelo Stanford History Education Group (Sheg), da Universidade de Stanford, o procedimento de checagem das notícias foi elaborado a partir das etiquetas da "Agência Lupa", dos selos da plataforma "Aos Fatos", do infográfico da International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA) e a análise dos resultados foi estruturada com base nos Sete Tipos de Desinformação, descritos por Wardle e Derakhshan (2017). Os resultados evidenciam que os estudantes dão maior credibilidade às informações sobre vacinas que circulam na mídia tradicional do que às que circulam nas mídias sociais. Também há evidências de que as informações não factuais do gênero informativo produzidas na tipologia textual Notícia têm maior credibilidade do que as não factuais que se utilizam de outras tipologias textuais, ou seja, quanto mais a informação tem a aparência de notícia, maior a probabilidade de se acreditar nela. Na mesma linha, constatou que 80% dos estudantes não identificam conteúdos publicitários em formato de texto jornalístico, resultado que se aproxima da pesquisa realizada pela Universidade de Stanford (DONALD, 2016). Tais resultados, entre outros, sugerem a reflexão acerca da importância da inclusão do Letramento Midiático e Informacional na escola, ainda durante a formação básica do estudante para desenvolver um leitor competente, crítico e menos suscetível a informações não factuais